terça-feira, 25 de outubro de 2011

A história do Symbian.


A Psion era uma pequena empresa Inglesa, que começou a produzir computadores de mão em 1984, que culminaram no Psion Series 5, um handheld bastante poderoso (para a época), que oferecia um volume surpreendente de recursos e rodava um sistema operacional próprio, o EPOC.
O Psion Series 5 era baseado em um processador ARM7100 de apenas 18.4 MHz, combinado com 8 MB de memória SRAM, usada para armazenamento e instalação de programas, que podia ser expandida através de cartões compact flash de até 128 MB. Na época, os cartões de memória eram ainda muito caros (eles vieram a se popularizar apenas a partir de 2004), de forma que 128 MB pareciam realmente uma capacidade inatingível.
Outra característica curiosa é que o Psion 5 funcionava com duas pilhas AA, que resistiam a até 30 horas de uso contínuo. Com isso, a autonomia não era problema, já que você podia comprar dois pares de pilhas recarregáveis e simplesmente ir trocando-os conforme o uso (os dados da memória eram preservados durante as trocas graças a uma bateria de backup, como as usadas nas agendas eletrônicas).
A característica que mais chamava a atenção era o teclado, que deslizava quando o aparelho era aberto, melhorando o aproveitamento do espaço e colocando a tela numa posição confortável para uso prolongado. Isso tornou o Psion o preferido entre engenheiros, médicos e profissionais em geral, já que era o único portátil da época que permitia trabalhar confortavelmente por longos períodos, substituindo um notebook:
Entre os aplicativos instalados, estavam um processador de textos, planilha, gerenciador de contatos, agenda, calculadora, leitor de e-mails e navegador, que podiam ser usados caso você comprasse o modem serial, que era vendido como acessório.
A tela era monocromática e não oferecia um contraste muito bom, refletindo muito a luz ambiente. Entretanto, ela tinha como grande vantagem a resolução de 640×240, espaçosa mesmo para os padrões atuais:
Em termos de hardware, o Psion 5 era bastante modesto, a começar pelo processador. O grande destaque era o sistema operacional, que aproveitava muito bem os recursos de hardware, e rodava com um desempenho surpreendente.
O Psion 5 foi seguido pelo Series 5 MX, pelo Psion Revo e pelo Series 7, um modelo maior e com tela colorida. Nenhum deles fez muito sucesso, o que acabou levando a empresa a descontinuar a linha em 2001. Apesar disso, o EPOC sobreviveu, dando origem ao Symbian, que o sistema mais usado em smartphones, sobretudo em aparelhos da Nokia, LG, Samsung, Motorola e Sony-Ericsson.
Duas vantagens do Symbian é que ele tem o apoio de vários fabricantes (incluindo a Nokia, que possui mais de 30% mercado global de aparelhos) e que ele é um sistema relativamente leve (principalmente se comparado ao Windows Mobile, que seria seu concorrente direto) permitindo que ele seja usado em aparelhos mais compactos, sem que as funções ou a autonomia da bateria sejam comprometidas.
A família Symbian é dividida em duas plataformas, parcialmente incompatíveis. De uma lado temos o S60, desenvolvido pela Nokia (e encontrado também em alguns aparelhos da LG, Samsung e alguns outros fabricantes, que licenciam o sistema) e o UIQ, encontrado em aparelhos da Sony-Ericsson e da Motorola. Entre os dois, o S60 é o mais usado, simplesmente porque a Nokia vende um volume muito maior de aparelhos.
Uma das principais diferenças entre os dois é que o S60 é controlado através das teclas, oferecendo uma interface mais familiar para quem está acostumado a usar as interfaces de celulares, enquanto o enquanto o UIQ oferece suporte a telas touchscreen e ao uso da stylus:
A relação entre o Symbian, o S60 e o UIQ pode parecer complicada, mas na verdade não é. O Symbian é o sistema operacional, que inclui drivers e bibliotecas de funções, enquanto o S60 e o UIQ são interfaces que rodam sobre ele, incluindo aplicativos e bibliotecas de desenvolvimento.
Se fôssemos traçar um paralelo com as distribuições Linux, o Symbian seria composto pelo Kernel e as bibliotecas básicas do sistema, enquanto o S60 e o UIQ seriam o KDE e o Gnome; interfaces que rodam sobre ele.
Continuando, embora o Symbian tenha nascido como um sistema proprietário, ele fez o caminho inverso em 2008, quando a Nokia, que já tinha 48% das ações da empresa, comprou o restante da Symbian, incluindo os direitos sobre o sistema, para em seguida anunciar a abertura do código fonte e a transferência do desenvolvimento para uma fundação neutra, a Symbian Foundation, processo que foi concluído até 2010.
Essa decisão pode parecer estranha a princípio, mas na verdade foi cuidadosamente calculada. A Nokia utiliza o Symbian na maior parte dos seus aparelhos, que representam alguns bilhões anuais apenas em lucro líquido. Com isso, comprar os direitos sob o sistema de forma a evitar que outra empresa concorrente o fizesse faz bastante sentido.
Por outro lado, manter o sistema proprietário significaria que a Nokia teria que arcar sozinha com todo o desenvolvimento do sistema e correr o risco de ver os desenvolvedores de softwares e outras empresas que utilizam o sistema debandarem para o Android, que é uma plataforma aberta. Com isso, comprar e em seguida abrir o sistema acabou se revelando a melhor saída.
A Symbian Fundation já contou com nomes de peso, como a Motorola, Sony Ericsson e a NTT DoCoMo, que estão contribuindo com código do UIQ e outros componentes, além da própria Nokia, que anunciou planos de abrir o S60 e doar o código à fundação. Vale lembrar que recentemente, devido basicamente à desistência dos particupantes, a Nokia assumiu novamente o controle total do Symbian, encerrando a fundação.

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